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DIVAGAÇÕES SOBRE SUICÍDIO


Suicídio sempre foi um pensamento constante na minha vida. Medo de envelhecer. Medo de doenças. Medo de viver demais e ver o quanto tudo é inútil e vazio.


Sempre encarei a morte de frente, acho que uma pessoa não poderia se tornar um astronauta se tivesse medo de morrer. Apesar de todas as precauções, ainda é uma profissão de risco. Bombeiros, policiais, soldados... São todos suicidas enrustidos. A pessoa não escolhe uma profissão onde corre o risco de levar um tiro ou morrer queimado por puro altruísmo. Não existem heróis que não sejam suicidas.


Quando eu era adolescente ficava horas pensando em como eu faria. Pensei em remar até uma área cheia de tubarões e fazer um corte na mão. A água do mar se misturando ao meu sangue iria atrair as feras para o banquete final. Faria um furo no barco e estouraria os miolos com uma arma. Rápido e indolor. O barco afundaria aos poucos, os tubarões me comeriam já morto. Nenhum corpo para ser enterrado. Simplesmente sumiria para sempre.


Depois que perdi um cachorro que fugiu e nunca mais o encontrei desisti desta idéia. É muito ruim não ter certeza que alguém que você ama muito está vivo ou morto. É preciso um corpo para enterrar.


O mar foi minha escolha por ser quase infinito.


Irônico.


Jamais imaginaria que o espaço sideral seria o meu túmulo.


Será que há algo mais infinito do que o espaço?


Será que Deus consegue passar esta sensação com sua presença?


Agora que estou vagando no espaço e devo morrer logo por falta de oxigênio, suicídio é algo que não para de passar pela minha cabeça. Algumas pessoas dizem que é um pecado mortal. Dizem que vou para o inferno. Suicídio é mal visto pelas pessoas, você não tem o direito de tirar a própria vida.


Por quê?


O suicida não é uma pessoa com mais fé? Ninguém se mata pensando que não há algo melhor do outro lado. Não seria o suicida o único a dar um passo preciso e sólido rumo a eternidade? Não seria recebido com salva de palmas por ter mais certeza do além vida do que as pessoas que se apegam a vida como urubus atracados a carniça? Não seríamos pobres de espírito quando simplesmente nos recusamos a morrer e lutamos sem motivo nenhum contra algo que não podemos vencer?


A morte é inevitável. Nada de novo nisso.


Se eu decidir abrir o capacete e simplesmente morrer alguns minutos antes do sofrimento vir me pegar me recuso a me sentir culpado. Não vou entrar na eternidade com a cabeça baixa por ter decidido tomar minha própria vida. É preciso muito culhões pra isto. E quem diabos pode julgar a minha decisão? Quantas pessoas morreram no espaço como eu? Quantas pessoas tiveram a vida de todos os suicidas lá de baixo?


As pessoas julgam e é só isto o que elas sabem fazer.


As vezes o sofrimento é grande demais. As vezes a desesperança é grande demais. As vezes a vontade de viver é pequena demais. E quem somos nós pra julgar?


Acho que já decidi meu fim. Acho que o decidi há muito tempo atrás.

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