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SÓ UM PEREGRINO PELO MUNDO (ENQUANTO O BRASIL VIROU PIADA MUNDIAL)


Já faz quase cinco meses que não escrevo sobre meu exílio, saí da Irlanda faz alguns meses e desde então ando perambulando pelo mundo como um peregrino, como me disse um amigo há uns dias atrás. Me fez lembrar de um personagem em quadrinhos que eu gostava muito criado pelo Garth Ennis e de uma música que escrevi sobre ele há uns quinze anos atrás.


As fomes nunca serão saciadas

As mortes nunca serão impedidas

As lagrimas nunca deixarão de cair

As doenças nunca serão curadas

As feridas nunca serão fechadas

As confianças sempre serão traídas

As vontades sempre serão esquecidas

Sou só um peregrino

Levado pelo vento

Andando pelo oceano

Procurando por você


Nem lembrava que tinha essa música salva nos meus arquivos, acima é só um trecho, que no fundo diz muito de mim. Andei pelo mundo para descobrir que o cenário mundial é o mesmo na Europa, Ásia ou América, a desesperança é geral, talvez em alguns lugares mais e em outros menos, mas ela está ali. O Brasil por aqui virou uma piada mundial, pena que é uma piada ruim, que não serve nem para rir. Esses primeiros meses de governo são catastróficos e me alegra saber que me afastei de todos que deram legitimidade para este circo.


Lógico que a jornada nos ajuda a descobrir mais sobre nós mesmos, mas algumas verdades são as que eu sempre soube e serão sempre absolutas ao meu respeito. Uma delas é a de que não quero passar pela vida sozinho, que sempre estou em busca de alguém para compartilhar a vida comigo, que queira viver momentos e crescer ao meu lado, estou sempre entregando minha alma nessa busca e sempre me machuco demais.


Tempos de depressão, apatia, recuperação, descobertas, riscos, sonhos… tudo isso eu tive nesses meses. Estar assistindo de novo ao Star Trek com o Capitão Picard tem me ajudado muito a entender novas culturas e civilizações, aceitar diferenças e permitir com que eu abrisse meu coração para quem sabe dessa vez não ser machucado. Namorar uma garota do Oriente Médio tem sido realmente uma das coisas que me pegou de surpresa, dessas coisas que a gente nunca está preparado, mas que a vida te dá uma rasteira e ri da sua cara. Apesar das dificuldades culturais, cada dia mais percebemos o quão somos parecidos.


No momento estou trabalhando em uma fazenda em Zempow, norte da Alemanha, talvez meu próximo destino seja a Itália e depois o Irã para conhecer a sogra. Essa peregrinação me permitiu conhecer e fazer amizades com pessoas de diferentes partes do mundo como Cingapura, Nova Zelandia, Espanha, Alemanha, Líbia, Rússia, Itália, México… e por aí vai. Vivi com um casal de amigos que estarão para sempre em meu coração, mas esta históriafica pra um conto futuro. Tive o prazer de ter sido recebido pela minha ex e seu marido em Berlim e isso só fortaleceu a crença de que sempre tomei o rumo certo para minha vida, sem deixar rancores e mágoas no meu passado, apesar de algumas pessoas insistirem para que existam exceções à regra.


Sinto falta de muitas coisas: do meu cachorro, da minha família, da minha casa, dos amigos, da cerveja em mesa de plástico, da comida, de assistir um jogo do Corinthians e de alguns confortos que não tenho por aqui. Nessa peregrinação tive que aprender a tomar banho de água fria, comer coisas esquisitas, dormir em lugares que se minha mãe me visse chorava, mas a gente se acostuma, segue em frente e se prepara para o pior, o ser humano é fascinante nesse aspecto.


Nas próximas semanas, Micah, minha cabra preferida vai ser abatida, tenho tentado passar o maior tempo possível com ele, porque assim como o Capitão Picard, vivo agora respeitando a Primeira Diretriz* e o costume local acima de tudo, por mais que me doa saber que Micah tem pouco tempo de vida, me recuso a me afastar dele, vou fazer com que os próximos dias façam valer a pena para nós dois.


É assim que tento viver agora, e por mais que sinta vontade de pegar o primeiro avião e dormir em casa, sei que ainda não é a hora.


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* Primeira Diretriz: Regra principal da série Star Trek onde é proíbido a todas as naves e membros da Frota Estelar interferir com o desenvolvimento normal de uma cultura ou sociedade.

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