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Café com Canela

Por Vanessa Sueroz / Fev 2018

Marcamos novamente em frente à cafeteria.

Era o nosso terceiro encontro e eu ainda me sentia nervoso. Não fazia ideia se comprava um café enquanto esperava, um doce ou até mesmo uma água, e mesmo correndo o risco de parecer desajeitado fiquei me remexendo ansioso na cadeira, olhando constantemente para o relógio que não colaborava comigo. Ainda faltam cinco minutos. Olhei de espreita para a janela em busca de uma vista melhor, da sua grande chegada, de vê-la com antecedência e poder me preparar para quando finalmente ela estivesse na minha frente. Hoje era o dia. Estou me sentindo um adolescente indo para o seu primeiro baile com a garota que gosta. Acho que estou mais nervoso hoje do que no meu primeiro beijo. Sim estou, não tem comparações. Planejei o dia de hoje com muitos detalhes, sim, iríamos nos encontrar no local de sempre – local de sempre, até parece que já estamos namorando há anos.

A cafeteria era o local perfeito para ela. Acho que tomar um cappuccino todas às manhãs era uma meta para ela, mas, para mim, estar ali só significava uma coisa: vê-la.

Eu a conheci quando um colega quis entrar na cafeteria para comprar um chá. Foi quando a vi na fila do caixa, parecia apenas uma garota como outra qualquer, mas para mim foi a visão de um anjo moderno. Vestida com sua calça jeans apertada, uma bata branca, cabelos soltos e jogados para o lado me atraíam como um convite. Notei que mesmo comprando um simples café, sem maquiagem, era linda! Fiquei dias frequentando a mesma cafeteria na esperança de vê-la. Para a minha sorte, ela já era uma cliente fiel. Todos os dias, perto das sete da manhã, ela vinha pegar o seu cappuccino. Depois de algum tempo tentando criar coragem, entrei na fila atrás dela. Claro que nem ao menos pensei no que compraria, queria apenas escutar sua voz. Assim que seu café ficou pronto, ela foi ao outro balcão. Tentei não parecer ansioso quando a alcancei e, simplesmente para puxar assunto, pedi o vidrinho de tempero emprestado. Joguei uma grande quantidade no meu café e só depois percebi que era canela, então, perguntei seu nome. Hoje tudo será diferente. Nosso terceiro encontro será um passeio no parque do Ibirapuera. Pretendo estar sentado junto a ela quando o pôr do sol aparecer e, ali, olhando para o lago sob o céu laranja, quando a lua e o sol estiverem se beijando, desejo por fim descobrir o gosto de sua boca.

Consultei meu celular para saber se ela havia me enviado alguma mensagem, mais uma vez sem notícias. O relógio parecia trabalhar contra mim. Ainda faltam quatro minutos. Levei o café à boca para sentir seu gosto, tentar me acalmar e parecer uma pessoa normal, mas não foi surpresa quando o líquido quente desceu pela minha garganta e a única coisa que pensei foi que esqueci de colocar canela. Sem conseguir me aguentar na cadeira, perguntei as horas para a pessoa ao meu lado, que parecia com bastante pressa, mas a resposta não foi boa, pois não havia passado nem ao menos um minuto. Todos os relógios deste lugar devem estar errados, é a única explicação. Novamente, olhei para a rua movimentada. Muitas pessoas caminhavam apressadas pela calçada da Av. Paulista. Ela viria de metrô, então eu estava com uma vista quase privilegiada de sua chegada. Verifiquei mais uma vez a tímida rosa que havia comprado, ela ainda estava com o botão fechado. Espero ter acertado na escolha da flor. Nunca conversamos sobre o assunto, mas achei que valia a pena arriscar. Ainda faltam três minutos. Já estava começando a sentir o suor surgindo, o nervosismo só aumentando e a capacidade de raciocínio diminuindo.

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