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COMO ESCAPEI DOS FASCISTAS E FUI MORAR NA IRLANDA


28 de outubro de 2018, o discurso de ódio e as antigas ideias fascistas enterradas há tanto tempo na Europa ganham força na América do Sul. Bolsonaro é eleito o novo presidente do Brasil. Eleito por um povo sem memória, um povo que não lê livros e tem umas das piores educações do planeta (dá para culpá-los? Eu consigo!), eleito por uma trupe raivosa que quer sangue: sangue de pobres, de negros, de homossexuais.


Sua vitória é ovacionada no aeroporto em que eu estou, como deve estar sendo ovacionada em muitas outras partes do país. Eu estou ali sentindo uma tristeza, desesperança, impotência, frustração e um alívio de estar partindo pro meu exílio, com a minha camiseta com os dizeres: “Exilado Político Nº0001” e olhando feio para os fascistas que me cercam.


Pego o primeiro voo para Madrid três horas depois de sair o resultado das urnas, volto para a Europa doze anos depois de minha tentativa frustrada de abandonar o país. Rumo à Irlanda na primeira conexão e realizando um sonho que habitava em mim há mais de 25 anos. Deixo no país amigos, familiares que eu amo, outros que cortei relações que se mostraram tão fascistas que me assustaram e amores confusos e inacabados.


Seria mentira dizer que fugi só do fascismo e da situação política do país, não, desculpas não faltam para fugir: fugi de memórias, fugi de amores não correspondidos, fugi de uma vida fragmentada que se tornou pesada demais pra carregar de onde eu estava, fugi pra um novo recomeço e principalmente fugi para me encontrar de novo.


Chego a Dublin às 17h30, o céu já está escuro, a alça da minha mala mais pesada foi arrebentado pela companhia aérea e pego um taxi em direção ao hostel indicado pelo motorista. O lugar é barato, dá pro gasto. Vou dar uma volta em busca do Temple Bar, mas pego a direção errada do rio Liffey e acabo no Ferryman’s Pub no início da Sir John Rogerson’s Quay logo depois de atravessar a ponte que leva o nome do escritor Samuel Beckett (o que me faz lembrar que só li o Murphy dele e não gostei muito), a única mulher bonita lá era a garçonete, a maioria eram homens mais velhos... devo procurar o Temple Bar no dia seguinte.


Na volta para o Isaacs Hostel, onde estou hospedado, paro para comer um hambúrguer no rocket’s e é simplesmente o melhor hambúrguer que já comi na vida (Chilli Burger por €6,95). De volta ao hostel, tomo um banho e vou a uma sala de leitura para tentar escrever este texto, uma brasileira fica conversando no telefone alto no local, atrapalhando todo mundo, coloco meu passaporte italiano em cima da mesa e evito conversa com ela. Cada vez mais percebo que o maior problema do brasileiro é a educação, em todos os aspectos, seja na falta de educação em perceber o mundo ao redor e achar que é a pessoa mais importante no recinto, seja em ignorar livros de histórias e achar que sabe mais porque leu um trecho na internet de alguma coisa sem base nenhuma. Educação acadêmica e educação pessoal. Não sei se existe essas divisões na educação, se não existe, inventei agora.


São quase 23h00 horas aqui, tentar dormir cedo para explorar a cidade amanhã, fico triste ao lembrar do Ulisses que esqueci no Brasil, do meu cachorro que tenho planos de trazer para cá e da situação política lastimável para meus amigos que ficaram. Daqui dois dias devo ir para Galway, onde se tudo der certo, irei me fixar de vez.

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