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UM DIA DEPRIMENTE


Vitor acorda deprimido todas as manhãs, é um estado natural matinal, porém existem dias piores que outros. Se levanta, vai se olhar no espelho, então lembra que não existe mais espelho no banheiro, deu-lhe um murro em algum acesso de fúria. Vai até a cozinha, mas logo é atacado por uma ância incontrolável devido a uns mofos e gosmas que se acumularam em alguns pratos sujos nos últimos meses. Ele fecha a porta da cozinha rapidamente e esquece de pegar a cerveja na geladeira, agora é tarde, jamais conseguirá entrar ali de novo sem vomitar.


Desencana da cerveja e vai checar seus e-mails, daí lembra que o computador está quebrado, já faz mais de uma semana, amaldiçoa seu apartamento, chuta alguma coisa e sai dali. Chegando no elevador ele percebe que está de cueca e volta pro apartamento pra colocar alguma roupa, restam poucas limpas, nem tudo ainda está perdido.


Resolve não ir no trabalho hoje, está muito deprimido e não conseguiria agüentar sua supervisora enchendo o saco porque ele não faz nada, mas o problema nem é ele, o problema é que não tem nada para se fazer em um clube enquanto o tempo permanece gelado.


“Devia era ir pedir demissão” – pensa – “não preciso disso, vivia muito bem sem dinheiro antes, posso viver de novo”.


Passa por uma livraria e compra um monte de livros, de Calvino a Dostoievski, ele fica assim quando está deprimido, compra um monte de coisas como se fosse uma mulherzinha num shopping.


Chega em casa, arruma os livros na prateleira, separados por escritores, Calvino fica ao lado do Burroughs e Dostoievski fica em uma prateleira só dele. Garcia Márquez divide uma com Kafka.


Vitor senta na cama, fica olhando a estante e passa o resto do dia chorando sem saber exatamente porque se sente assim de vez em quando.

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