top of page

VAGANDO NO ESPAÇO DE DIVAGAÇÕES (PRÓLOGO)


“Burro! Burro! Burro!”


É só o que eu consigo pensar enquanto vejo a estação espacial tomando distância de mim.


“Prender cabo de segurança 1, soltar cabo de segurança 2” – procedimento simples, até uma criança consegue seguir isto, me distraí, fiz besteira... Meu corpo é jogado no espaço e eu me perco, provavelmente para sempre, vou tomando velocidade e logo logo a estação espacial vai ser um ponto ínfimo no meu horizonte.


“Mas que horizonte...”


Consigo ver o planeta Terra quase como se fosse uma montanha bem próxima a mim, é como se eu pudesse tocá-lo. Fico imaginando se ainda vou poder enxergá-lo quando meu oxigênio acabar. Será que vou ter uma visão de casa quando der o meu último suspiro? Espero que sim.


Quanto devo ter de ar para respirar ainda? Provavelmente umas seis horas, tempo suficiente para me desesperar, meu corpo treme ao pensar que as próximas horas serão as últimas da minha vida. Começo a suar frio e tenho um ataque de pânico, tento me acalmar para poupar um pouco de ar, mas me sinto ridículo em tentar poupar o ar... É tudo uma perda de tempo.


Sinto o meu suor frio escorrendo pelo meu rosto, gostaria de poder limpá-lo, mas o capacete impede que eu o faça, tento esfregar a testa no vidro e obtenho algum êxito. O vidro parece mais frio do que o normal, liso e gelado como o infinito que me cerca. Agora tem uma mancha de suor no meu capacete e atrapalha um pouco a minha visão do lado direito.

Meus olhos começam a lacrimejar, estou chorando, mas é estranho porque não me dou conta do fato. Nunca aconteceu isto antes. Sempre que choro eu sei que estou chorando, porém agora é diferente, é como se outra pessoa estivesse chorando, mas são os meus olhos que estão cheios de lágrimas.


“Burro! Burro! Burro!”


No momento eu tentei prender o cabo com rapidez, mas fui lento como uma lesma... Lembro-me de uma passagem do filme Apocalipse Now onde algum personagem fala sobre uma lesma andando no fio de uma navalha, ou algo que o valha, imagino a lesma se locomovendo e a cada milímetro o corte em seu corpo se aprofundando. É assim que me sinto. Sou a lesma em uma navalha, estou tendo o meu corpo cortado a cada milímetro que me movimento, o problema é que a minha lâmina é infinita.


Observo o planeta Terra e a estação espacial cada vez menores, olho para os lados e vejo as estrelas, sempre estáticas, imutáveis e brilhantes no véu negro que cobre toda a criação.


Então é assim que começa as últimas horas da minha vida, é assim que começo a vagar em um espaço de divagações...

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page