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VAGANDO NO ESPAÇO DE DIVAGAÇÕES (EPÍLOGO)


“Viver é a coisa mais rara do mundo.

A maioria das pessoas apenas existe.”

Oscar Wilde


Tento quebrar o vidro do meu capacete em um último ato melodramático. Tento abraçar a morte de uma maneira eloqüente. Bato com as mãos no vidro incessantemente até me cansar. O vidro continua intacto.


Não vai ser da maneira que imaginei.


Vai ser da maneira difícil.


Desisti de esperar a morte, resolvi ir de encontro a ela. Não acho que existe algo de antiético e amoral em relação a isso. Quem quiser me julgar que fique a vontade.


Abro o meu capacete e sinto todo o ar me deixar, não apenas o ar de dentro da roupa, mas o ar de dentro de mim também. Não consigo respirar e vou me afogando no vácuo bem mais devagar do que eu imaginava.


Enquanto morro, percebo que aquele papo de toda a sua vida passando diante dos seus olhos é verdade. Penso em amor, perdão, crescimento, respeito, heroísmo, paixão, animais, fantasmas, manipulação, infinito, maldade, música, espera, descendência, esperança, extraterrestres, mulheres, futilidades, solidão, conexão, tédio, religião, decepção, acidentes, amizade, saudades, indecisões, vícios, romance, trabalho, depressão, angústia, infância, rejeição, conforto, desejo, excitação, alucinação, cansaço, conseqüências, culpa, envelhecer, suicídio, sexo, nada, morte, iluminação e libertação.


Estou livre.


Sou perfeito.


Estou morto.


Tudo escurece.


A cortina cai.


Finalmente o fim.


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“Em memória ao Astronauta Desconhecido

cujas últimas divagações foram ouvidas

pelos irmãos Judica-Cordiglia em 1961.

Descanse em paz. Você não será esquecido.”

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