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MEU TIO É UM BUNDÃO

  • Foto do escritor: Gustavo Campello
    Gustavo Campello
  • 23 de jul. de 2010
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de fev. de 2024


Vitor Scaglia estava sentado no sofá ao lado do seu sobrinho, tentava escrever sua primeira crônica, mas o pirralho ficava mudando o título. Então resolveu deixar do jeito que estava.


“O meu tio só pensa em ler livros. Ele compra uns dez mil de uma vez e lê em um dia todos de uma vez”: o garoto pensa em voz alta.


Ah, como ele gostaria de fazer isso. Não tinha um tostão furado pra comprar livros atualmente, não tinha onde cair morto, estava pobre e todas as lâmpadas da sua casa tinham queimado de uma vez por causa de alguma fiação estragada. O moleque havia colocado o título para provocá-lo, mas o achava o máximo.


Vitor era um cara esquisito, pelo menos com os parâmetros que o garoto tinha: barbudo, desleixado, roupas esquisitas que eram moda nos anos 90, cabelo desgrenhado e sem corte, muito diferente do resto da família, e tinha um emprego engraçado, era escritor. Como assim era escritor? Havia ido em dois lançamentos de livros que continham um conto seu em antologias, mas não conseguia entender como o tio conseguia ganhar dinheiro com isso.


Simples: ele não ganhava dinheiro com isso.


Como ele sobrevivia?


Simples: ele não se preocupava com isso.


Vitor, o cara mais estranho da família Scaglia, todos gostavam dele, mas tinham medo de como ele iria aparecer em alguma festa. Como estaria vestido? Iria vomitar na porta da igreja, bêbado, como fizera no casamento da tia? Tinham medo com certeza do que ele podia aprontar.


Então pra ele era simples, não aparecia em quase nenhuma festa, sentiam falta de sua presença, mas quando apareceu no casamento da prima, no ano passado, todos logo pensaram que ele poderia ter faltado. Ficara bêbado, óbvio, e logo se pôs a falar sobre as irmãs gêmeas gostosas do noivo e de como as imaginara se agarrando no corredor da igreja quando entraram como damas de honra, as pernas se enroscando, uma beijando o pescoço da outra.


QUE TESÃO!


Todos se entreolhavam e perguntavam que porra de pensamento era aquele, elas eram irmãs, mas lógico que o primo comedido com pose de santo pensou na coisa toda olhando para as gêmeas e achando que tudo era uma boa ideia.


Mas pelo menos era um herói para o sobrinho, que ainda estava sentado ao seu lado no sofá enquanto o tio ouvia aquela banda esquisita tocando no laptop, Little Quail and The Mad Birds, até as músicas que ele ouvia eram diferentes.


Pensou que quando crescesse poderia se tornar igual ao tio... Mais uma criança estava salva neste mundo. Ou não?

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