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VISITA EM FAMÍLIA



Os pais de Vitor Scaglia moravam em uma cidade próxima, dava uns cinquenta minutos de viagem, na verdade quase toda a sua família morava lá, as duas avós, uns cinco primos, dois tios e duas tias e mais uma porrada de gente, Vitor costumava aparecer por lá pelo menos umas três vezes por ano, era uma frequência baixa devido a proximidade da cidade, mas evitavam comentar sobre o assunto. Era sempre a mesma coisa, chegava à casa de seus pais e se indagava “porque diabos tinha uma escova de dente lá?” Ela era usada tão pouco e provavelmente iria durar mais de cinco anos, na verdade devia ter uns três anos agora e ainda estava tão nova, era uma escova de dente muito melhor do que a que estava em sua casa, sempre que visitava seus pais pensava “Está na hora de trocar a escova de dente que está lá em casa”. Tinha também um chinelo e era muito mais confortável do que o que tinha em sua casa também, sua mãe mandara fazer aquele chinelo em alguma senhora que fazia chinelos e mesmo eles parecendo chinelos de idosos eram muitos bons nos pés. “Devia levar esses chinelos para casa”, mas sempre os deixava lá. Sempre que ia visitar seus pais e parentes batia aquela saudade de casa, não gostava de sair, deixar suas coisas, seus peixes sem comida, era definitivamente um homem caseiro. Ficava no máximo três dias fora de casa, nunca mais do que isso, mas quando ia tomar banho sempre pensava que podia ficar uns dias a mais, aquele chuveiro era o melhor chuveiro que já tinha visto na sua vida, a água saía com tanta força que massageava suas costas, podia deixar a água muito quente no inverno e muito fria no verão, seu chuveiro definitivamente não era assim, funcionava direito, mas era um chuveiro comum, porém tinha aquela gota de água gelada que sempre pingava nas suas costas, dizia que ia consertar aquilo, mas sempre esquecia, Beatriz, sua namorada, sempre reclamava do seu chuveiro e sua maldita gota gelada. Visitava o primo em uma das noites que passava por lá, cresceram juntos, era como um irmão, tomavam cerveja, jogavam videogame e era sempre humilhado em todos os jogos da face da Terra, mas tudo bem, o importante era jogar, mesmo em suas melhores performances no futebol acabava perdendo nos pênaltis depois de um empate suado. Bebiam mais e conversavam sobre qualquer coisa, de todas as pessoas da família, seu primo Giorgio, era o que mais estimava. Sua avó, acometida com o mal de Alzheimer balbuciava palavras sem sentido, havia ido especialmente para lá ver ela, pois tinha tido um sonho onde ela, seu falecido avô e o irmão dele também morto jogavam cartas em uma sala estranha no outro mundo. - O que está fazendo aqui, menino? – disse o avô preocupado. - Vim ver o jogo – Vitor disse despreocupado no sonho. Tudo aquilo parecia um sonho, portanto devia saber que estava sonhando. - Estou esperando minha irmã – disse a avó, que ainda não estava morta no mundo real, mas parecia tão acostumada ali, com aquele cenário tão estranho. - Menino – disse o irmão do avô, tão simpático e brincalhão – você tem que dar o fora daqui, ainda está vivo. Vitor acordou e sentiu que precisava ir visitar a avó, que parecia estar esperando a irmã morrer para poder ir junto. Foi visitá-la e ficou ali com ela, tão distante, sem nem o reconhecer. Vitor lembrou-se de fotos antigas dela, era realmente gostosa, o tipo de mulher pela qual ele se apaixonaria fácil – “Que homem de sorte era meu avô” – pensou ele ao ver aquela foto pela primeira vez, pois se ainda existisse uma italiana tão gostosa, que se apresentasse, duvidava que existisse. Foi-se embora depois de três dias. Cinco meses depois todo o ritual se repetiria, mas desta vez levou os chinelos.

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