ARTE TRANSGRESSORA
- Gustavo Campello
- 1 de out. de 2010
- 2 min de leitura

Beatriz havia acabado de voltar de um festival de arte em outro estado.
- E aí? Como foi? – pergunta Vitor.
- Putz, teve uma oficina de performance horrível, você ia adorar.
- Hahahahaha, como era?
- Tinha uma temática transgressora, algo de ir contra o sistema, chocar as pessoas, essas coisas.
- Putz!
- Um gordinho entrou com uma fralda e uma tira de couro espremendo o peito, ficou parecendo que tinha umas tetas de mulher, enfiou a mão na fralda e pichou a parede com algo que parecia bosta!
- Não fode!
- É sério, todo mundo pensou que era bosta mesmo, mas era doce de leite.
- Hahahahahahahahaha, mas que merda!
- Não, era doce de leite!
- Hahahahahahahahaha, o que uma pessoa tem na cabeça pra fazer isso? – Vitor estava com a barriga doendo de tanto rir de imaginar a cena, nunca entendeu essas performances artísticas e entendia menos ainda o que diabos um gordinho de fralda pichando com algo que parecesse bosta tinha de transgressor ao sistema – mas diz aí, o que ele pichou?
- “A burguesia fede!”
- Não fode!
- Sério.
- Ele não podia ser original?
- O cara estava de fralda pichando a parede com um doce de leite que parecia merda, tá, foi horrível, mas não da pra dizer que ele não foi original.
- Hahahahahahahahaha! Tá certo!
- Teve outro cara que estava nu, com uma lixa de pé escondendo o pinto e um saco pendurado cheio de bombinhas que devia estar amarrado no próprio saco dele. Daí ele tirava as bombinhas do saco postiço, esfregava na lixa e estourava elas no chão.
- Não fode!
- É!
- Nossa, onde será que vive esse tipo de gente?
- Como assim?
- Porra, eu nunca conheci alguém que ficaria nu, com uma lixa escondendo o pinto e estourando bombinhas de um saco pendurado nos bagos!
- Ah, tá cheio de gente assim por aí.
- Por aí onde? Conheço um monte de gente que fez arte, você, o Jorge, a Larissa mesmo que faz artes cênicas não teria coragem de fazer uma merda dessas - pensou mais um pouco em alguém - Nem o Mario faria uma coisa dessas!
- Hahahahahahaha, realmente o Jorge nunca faria algo assim - Beatriz tentava imaginar a cena e ria compulsivamente.
- Essas pessoas devem viver em árvores com portinholas ou embaixo da terra, só aparecem pra essas oficinas, nem fodendo que são pessoas reais.
- Foi constrangedor!
- Ah, eu ia dar muita risada se estivesse lá - Vítor se imaginava rolando no chão de tanto rir enquanto as pessoas levavam suas performances a sério.
- Sorte que você não foi, teve uma menina que ficou imitando robô...
Ambos ficaram em silêncio, estavam imaginando a mesma cena. Vitor invadindo a performance, atacando a mulher e gritando “REPLICAAANTE!”. Vitor deu um sorriso, olhou para Beatriz e disse:
- Não perco mais estes festivais por nada!
No próximo ela iria passar vergonha.
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