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DIVAGAÇÕES SOBRE O DESEJO


Se eu tivesse um desejo agora seria poder voltar no tempo e poder conversar comigo mesmo há uns quinze anos atrás. Me preveniria sobre vários assuntos.


- Não saia com ela – eu diria – ela vai te fazer sofrer.


- Não faça aquilo com ela – eu diria – vai machucar tanto você como ela e vocês não merecem isto.


- Pare de se preocupar demais com este tipo de coisa idiota, você vai chegar lá na frente e perceber que só perdeu tempo pensando nisto.


- Ela vai odiar este presente de aniversário e vai trocar por duas calças nesta mesma loja dois dias depois.


- Você acha que está sozinho agora? – então eu daria um sorriso sarcástico – Espere pra ver daqui a alguns anos...


- Prender cabo de segurança 1, soltar cabo de segurança 2 – eu gritaria em meu próprio ouvido – Nunca se esqueça disto, isto é o mais importante de tudo.


Sim, eu gostaria de poder me avisar sobre algumas coisas, seria este o meu último desejo, viajar no tempo. Não estaria morrendo agora, porque eu teria tomado o máximo de cuidado ao prender o cabo de segurança 1 e só então soltar o cabo de segurança 2. Teria tomado cuidado porque teria me alertado sobre o acidente, poderia viver mais.


“Burro! Burro! Burro!”


De acordo com Schrödinger eu posso estar morto e vivo ao mesmo tempo agora, posso ser um paradoxo, pois ninguém no universo sabe qual minha real condição.


Sou o gato dentro da caixa. Vivo e morto. Morto e vivo ao mesmo tempo.


Sinto-me como um ser vivo, divago sobre minha vida e sobre os assuntos importantes que fizeram parte dela, penso logo existo.


Permaneço inerte como um morto, nada mais que eu fizer importa. Pensar, falar ou ouvir já não fazem diferença nenhuma, não interfiro em nada para o universo.


Talvez eu esteja vivo em outro universo. Não me distraí com os cabos de segurança em uma realidade paralela e estou a salvo na estação espacial. Vou voltar e viver minha vida. O gato de Schrödinger divide o universo em duas possibilidades e o universo continua existindo com essas duas possibilidades diferentes. O gato está vivo em um universo e o gato está morto em outro.


Eu vou sobreviver em outro universo e morrer neste, talvez o segredo da vida seja exatamente este. Vivemos nossa vida por completo, cada escolha que fazemos nos permite dividir o universo e vivenciarmos nossas vidas com as duas escolhas possíveis. Então quando morrermos em todos os universos paralelos nossa consciência se junta em uma só e saberemos quais foram as conseqüências de cada escolha.


Morrerei agora, mas continuo vivo. Quando todos os meus “eus” realmente estiverem mortos saberei como foi morrer no espaço ou ficar velho com filhos.

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