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DIVAGAÇÕES SOBRE A MORTE


Tudo morre.


Até uma pedra morre, chega ao seu fim. Um dia tudo isto desaparecerá e vai se tornar poeira. Pode demorar milhares e milhares de anos, mas tudo tem o seu fim.


Tudo.


Quando o meu avô morreu achei que minha vida havia perdido o sentido. Ele era a única pessoa que me ouvia, que me conhecia e que me entendia. Perdi um amigo acima de tudo. Não aceitei a morte, praguejei contra Deus e o destino das coisas. Depois dele a minha vida foi uma sucessão de enterros. Amigos, amores, irmão, parentes e a lista só foi aumentando.


Começo a achar que eu estava destinado a aceitar a morte, esta era a grande lição que eu devia aprender em vida. Não aceitar a minha morte em especial, mas a morte como uma conseqüência da vida. Ela não é um bicho de sete cabeças como imaginei quando meu avô morreu.


A morte é vista como algo muito pesado e complicado pela cultura ocidental, tentei abrir minha mente depois de nadar tanto tempo contra a maré e me recusar a encarar um sentido em tantos funerais. A morte na verdade é algo belo... é o fim de um ciclo. É o pulo final rumo ao desconhecido.


Aprendi minha lição neste mundo talvez cedo demais, talvez por isto esteja agora morrendo tão cedo. Talvez não haja mais nada para aprender agora... Nada que eu deva aprender pelo menos.


A morte não me assusta mais.


A morte de entes queridos já não me assusta mais há algum tempo.


E não é porque eu virei uma pessoa apática que não liga para nada, muito pelo contrário. Aprendi apenas a ver beleza onde poucas pessoas têm coragem de olhar com a profundidade necessária.


A morte não é escuridão. A morte é luz.


A morte não é desespero. A morte é tranqüilidade.


A morte não é tristeza. A morte é felicidade.


Muito me espanta que a maioria das pessoas que se dizem cristãs tenham tanto medo da morte. Acho que no fundo as pessoas só se dizem cristãs porque não entendem direito a própria religião. Digo cristão porque eu sou cristão, mas as coisas devem ser iguais em quase todas as religiões por aí.


Mas a pergunta que eu ainda não me fiz é: Eu quero morrer?


Eu posso aceitar a morte e lidar muito bem com ela, mas é algo que eu quero?


Não quero morrer.


Durante muito tempo talvez eu quisesse, mas hoje em particular, neste momento da minha vida... Não. Eu não quero morrer.


Quero poder acordar amanhã e ver que tudo não passou de um pesadelo. Olhar o Sol no céu e as nuvens caminhando pelo vento. Ouvir o cantar dos pássaros. Numa cena clichê de um filme da Disney. Quero poder fazer tudo isto e ainda ter um café da manhã digno de um comercial de margarina.


Eu vou morrer hoje. Não há nada que eu possa fazer.


- Me desculpe, Rachel – digo algo em voz alta pela última vez.

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