INDAGAÇÕES PERIGOSAS ACERCA DO EDIFÍCIO
- Gustavo Campello
- 12 de ago. de 2014
- 2 min de leitura

- Você nunca perguntou de onde vem a cerveja? – Ferzan tomava um gole da cerveja gelada logo após fazer a pergunta. Depois ficou encarando o caneco pela metade.
- Vem da maquina de cerveja, oras – Zlatko não entendeu muito bem a pergunta – que pergunta idiota.
- Sim, mas de onde vem a máquina de cerveja? Que composto é este? É uma mistura do que exatamente?
- Cara, este é o tipo de pergunta que não tem resposta. As máquinas de cerveja existem no Edifício, sempre existiram no Edifício e sempre vão existir no Edifício.
- Mas e as pessoas que aparecem do Mundo Anterior? E as lendas do Mundo Posterior. Você também tem os sonhos.
- Esse tipo de pergunta só complica a vida da gente. Quando a gente menos espera... Zapt! – Zlatko passou o dedo sobre a testa simbolizando uma incisão – Os Duendes Mecânicos mexem aqui dentro e tchau tchau.
- Os Subterrâneos também são lendas, histórias. Por acaso você já viu algum Sem-Coração com vermes pelo corpo?
- Não, mas não quero arriscar – Zlatko tomou outro gole da cerveja, olhou para Ferzan que continuava a pensar sobre a cerveja e finalmente disse – mas um Duende Mecânico eu já vi.
- Sério?
- Sim, existem muitos relatos de aparições, mas foi há uns cento e vinte anos atrás no 7432º andar.
- No 7432º andar? – Ferzan não parecia pensar mais na cerveja.
- Isso mesmo, estava velho, devia ter mais de mil anos, era guardado por um ancião local. Ele me deixou ver porque eu tinha acabado de despertar aqui no Edifício e ficamos chegados.
- O que aconteceu com ele?
- Deve estar por lá ainda.
- E como você veio parar aqui? No 10213º andar? – Ferzan estava interessado na história. Aquele seu jeito calado era apenas uma fachada que escondia um homem cujo cérebro não conseguia descansar. O tempo todo pensando, se indagando e ao mesmo tempo com medo. Medo do Deus-Fungo. Medo da mudança cerebral imposta pelos Duendes Mecânicos. Lendas tão antigas, mas que ninguém tinha coragem de dizer que não eram reais. Lendas cuja autenticidade ninguém mais questionava.
- Longa história.
- E qual era o nome desse ancião? – Ferzan já planejava uma viagem ao 7432º andar sem que o amigo percebesse – onde exatamente ele morava lá no 7432º andar?
- O nome dele era... – Zlatko estava confuso, não conseguia se lembrar – era... – forçou a mente e uma dor percorreu todo seu corpo até parar na cabeça – ele morava no... – colocou a mão na cabeça limpando o suor frio que lhe escorria pela testa – ele era o...
Os dois se entreolharam assustados. Era possível sentir o pânico quase palpável vindo de Zlatko, que por fim disse - Eu não me lembro!
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