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NÃO DURMA!


O sono incomoda como o corte de uma lâmina enferrujada, mas ele não vai dormir no meio das vias públicas do Edifício. Bebeu vinho demais, comeu aperitivos de menos.


Sonhos desconexos de um adesivo luminoso de algum líder fascista sem relevância nenhuma para o mundo, insignificante como todo líder fascista deveria ser. O amor de sua vida tira sarro dizendo que o adesivo é lindo e ri.


Ela precisa que ele fique acordado, abre suas pálpebras com os dedos e diz que não pode ficar sozinha. Tem medo do Deus-Fungo ou que os duendes mecânicos mexam na sua cabeça.


– Não se preocupe – ele diz tentando reconforta-la- não vou dormir – e era verdade, ele nunca dormia, sabia da existência dos duendes mecânicos, já havia visto eles uma vez, abrindo um crânio e alterando sinapses como se arrumassem um chuveiro.


Seu amigo nunca mais foi o mesmo, era outra pessoa depois daquilo, falava diferente, comia diferente, andava diferente, coçava o traseiro de maneira diferente: não era mais seu amigo.


Nunca mais o viu.


– Como consegue nunca dormir? – ela admirava isso nele, cambaleava sob o efeito da bebida e ria sem nenhum motivo.


– O medo me mantém acordado.


Ela também já havia visto os malditos duendes, foi em uma conversa aleatória sobre o assunto que os dois se aproximaram. Acho que uma pessoa que os já tenha visto reconhece outra, o olhar muda, a percepção de como o mundo é, do que há por trás do véu que esconde coisas que outras pessoas não compreendem e não querem compreender.


Foram para casa e ele ficou assistindo ela dormir, gostava disso, passava tranquilidade e paz, mas este sentimento se dissipou rapidamente quando percebeu um movimento no quarto. Levantou-se abruptamente para cair no chão após ser fortemente golpeado na cabeça.


Acordou no dia seguinte com uma forte dor de cabeça.


– Você dormiu? – ela perguntou para ele ao vê-lo caído no chão.


– Acho que sim – ele disse confuso.


– Você disse que nunca dormia.


– Disse? – sentou-se com dificuldade – Porque eu não dormiria?


– Por causa dos duendes mecânicos, oras!


– Duendes mecânicos?

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